Apurado pelo site E-Farças
A alegação começou a se espalhar através de grupos do WhatsApp e do Telegram na segunda quinzena de fevereiro de 2024. De acordo com o texto, um médico de Santa Catarina teria sido eleito o melhor médico cientista do mundo após comprovar que tratamentos a base de ivermectina são eficazes no combate à COVID19.
O profissional, contrário às vacinas, teria sido ameaçado de prisão no Brasil por suas pesquisas, mas teria sido agraciado com o maior título internacional que um cientista pode ganhar, calando a boca da Justiça brasileira.
Será que isso é verdade ou mentira?
O maior prêmio que um médico pode receber é o Nobel de Medicina e Fisiologia que, no ano de 2023, laureou dois cientistas: a húngara Katalin Karikó e o norte-americano Drew Weissman. Ambos foram reconhecidos por seus estudos no desenvolvimento de vacinas comprovadamente eficazes na prevenção da COVID19. O nome do tal médico que circula em mensagens nas redes sociais sequer foi cogitada na premiação.
O prêmio que o catarinense recebeu nos Estados Unidos não é o de “melhor médico cientista do mundo” e veio da organização FLCCC (sigla para “Front Line COVID-19 Critical Care” ou “Linha de Frente de Cuidados Intensivos da COVID-19”, em tradução livre), um grupo de médicos e ex-jornalistas formado em 2020 para defender o uso de tratamentos não aprovados, duvidosos e ineficazes para COVID-19.
A “premiação” ocorreu durante uma conferência realizada em fevereiro no estado norte-americano do Arizona e reuniu alguns médicos negacionistas além de curiosos. É importante ressaltar que a escolha dos premiados foi feita pelos próprios integrantes desse grupo ao qual o tal médico faz parte e que não há nenhum respaldo da comunidade científica e médica internacional.
Aliás, o próprio doutor é um dos fundadores da organização que lhe deu o prêmio, conforme podemos ver no quadro de sócios da FLCCC.
Não é verdade que o citado médico tenha sido ameaçado de prisão e teve que fugir do país por insistir no uso da ivermectina no tratamento de pacientes com COVID19. O que aconteceu foi o seguinte: em outubro de 2021, o médico receitou doses muito excessivas de um medicamento chamado proxalutamida, cujo registro ainda não havia sido feito no Brasil, para alguns de seus pacientes, e seu nome acabou entre as 68 sugestões de indiciamento no relatório da CPI da Pandemia. Em outubro de 2022, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul absolveu o profissional em um processo movido contra ele por testes realizados com a proxalutamida.
O Conselho havia aberto investigação para apurar um estudo clínico que teria sido realizado sem aprovação dos órgãos competentes com o fármaco. No entanto, ficou provado que não havia necessidade de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realização do tratamento, por se tratar de um experimento acadêmico, e não de um estudo regulatório para fins comerciais…
Veja a apuração completa no site E-Farças